Exército tem 1º curso para sargentos mulheres

05/05/2017 22h29 - Atualizado em 06/05/2017 13h24

Aos 21 anos, Gabrielli Lopes começou uma rotina distinta da maioria dos jovens. Desde o dia 17 de abril, seu dia a dia é exaustivo com muito estudo e exercícios físicos no curso de formação de sargentos do Exército.

Em busca de um futuro estável, ela concentrou-se nos estudos por 10 meses atrás de uma nova oportunidade. A recompensa foi a aprovação, em 1º lugar entre as mulheres, no concurso da Escola de Sargento das Armas (ESA) na área de combatente/ logística-técnica/ aviação, realizado no ano passado. Gabrielli deixou para trás 12,5 mil candidatas, uma concorrência de 179 por vaga, e conseguiu uma dentre as 70 vagas no curso.

"Eu só queria passar. Se passasse na 70ª posição seria ótimo. Eu não esperava esse resultado. Quando vi a concorrência fiquei assustada, mas percebi que tinha que pensar na minha prova", afirma Gabrielli.

Essa foi a primeira vez que o Exército anunciou uma seleção nessa área para mulheres. Gabrielli confia que terá uma grande responsabilidade para que outras mulheres possam surgir no futuro.

"Essa turma vai fazer história e ser o exemplo para outras. Eu acho que tem que expandir cada vez mais para as mulheres", afirma.

Conforme informado pelo Exército, as mulheres recebem a mesma instrução militar básica ministrada aos homens e participam de marchas (a pé e motorizadas), acampamentos, tiro real, jogos de guerra (em computadores) e manobras logísticas, na esfera de suas especialidades. Atualmente, cerca de 8 mil mulheres ocupam cargos em organizações militares de todas as regiões do país.

O curso de formação de sargentos vai até dezembro de 2018 e acontece em regime de internato. Os alunos podem sair nos dias de semana em caráter excepcional, e nos finais de semana eles podem ser liberados a critério do comandante. Após a formatura, os novos sargentos terão salário em torno de R$ 3.950.

A jovem afastou-se o bairro de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, e se apresentou para o curso em 17 de abril, em Juiz de Fora (MG).

Gabrielli escolheu concursos públicos pela estabilidade e pelo plano de carreira. Ela tem familiares militares e seu irmão era do Exército. "Tenho curso técnico em enfermagem e pensei em fazer o concurso para a área da saúde, mas quando vi a opção de combatente fiquei em dúvida. Só decidi dois dias antes de terminar a inscrição".

Ela fez um ano de cursinho pré-vestibular, mas não passou da segunda fase da UERJ para disputar uma vaga no curso para o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. A jovem também prestou concursos de nível médio, na área administrativa, para órgãos estaduais, mas, então, concentrou-se em seu objetivo: a ESA do Exército.

Estratégia de estudo

A jovem se preparou exclusivamente para esse concurso por 10 meses durante o ano passado, estudando nove horas por dia, sendo três horas no Curso Progressão e outras seis em casa ou em grupo de estudos. Pouco tempo antes da prova, ela chegou a estudar oito horas por dia, totalizando 11 horas.

O principal entrave foi a matemática. Ela não teve trigonometria na escola e teve que se esforçar para aprender o conteúdo. Estudo no ônibus, caderno com fórmulas e muitos simulados fizeram parte da preparação de Gabrielli. Por outro lado, cinema, praia e saídas com os amigos ficaram de fora da sua agenda.

Um imprevisto atrasou o cronograma de estudos de Gabrielli. Ela ficou doente, com chikungunya e precisou repousar. Algumas matérias já haviam sido terminadaso, mas ela perdeu muitas aulas de trigonometria. -Eu fiquei desesperada. Minha amiga filmava a explicação do professor e mandava para mim. Tive que parar por algumas semanas e depois não consegui manter o ritmo de oito horas de estudo, mas estudava todos os dias-, conta.

O resultado da dedicação total apareceu na prova: respostas certas em todas as questões de português e história, um erro em matemática e dois em geografia. Além de uma boa pontuação na redação.

Teste físico

Depois de passar pelas provas, o teste físico era um desafio novo para Gabrielli. Ela só pode se preparar somente depois da divulgação do resultado da redação, no fim de janeiro, mas os exames estavam marcados para o início de março. -Foi uma escolha péssima. Eu tinha um mês para treinar e não conseguia fazer as flexões sem apoio-.

Ela se inscreveu em um curso de preparação física para concursos e começou uma rotina de exercícios e dieta. O teste consistia em 37 repetições de abdominal supra, 8 flexões de braços sem apoio dos joelhos e corrida de 1.950 metros em 12 minutos.

"Fiz uma promessa, junto com três meninas da sala, de que não iria sair nesse período. Também cortei besteiras do cardápio. Até deixei de comemorar meu aniversário [no início de março]", lembra ela.

Ela foi a mais rápida na corrida e também atingiu todas as outras exigências. "Fui indo e nem sabia como estava me saindo. A questão psicológica é pior do que a física", afirma.

Futuro

Poucos dias antes de sua apresentação para o início do curso, Gabrielli estava apreensiva por ter de deixar a família no Rio de Janeiro. "Nunca sai de casa, sempre morei aqui e agora vou para outro estado. Deixei para pensar nisso só agora, no final".

Ela quer ter um bom aproveitamento no curso para só depois pensar qual das áreas vai escolher: logística, aviação, intendência ou material bélico.

Fazer faculdade, ser professora, participar de uma missão de paz e ser atleta estão entre as possibilidades para a jovem dentro do Exército. -Quero continuar no Exército porque existe um mundo de coisas para fazer. Quero entrar para ficar-, afirma.
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