Uma mensagem de caneta no pedaço de papel e muita vontade de trabalhar. Foi desta forma que a diarista de Uberlândia, Elaine Maria da Rocha Cunha, de 46 anos, tentou conseguir um emprego. Viúva e mãe de três filhos adolescentes, a chefe de família entregou cerca de dez bilhetes em caixas de Correios oferecendo o serviço de limpeza doméstica com os dizeres: "Sou diarista. Tenho boas referências. Preciso muito trabalhar".
"Com a crise eu perdi muitas faxinas e preciso criar meus filhos de 13, 15 e 17 anos. Saindo da casa de uma patroa eu fiquei pensando como poderia divulgar meu trabalho. Foi aí que eu peguei e comecei a escrever em folhas de caderno rasgadas. Na volta pra casa eu distribuí. Eu só quero trabalhar, eu preciso de emprego, meu sonho é dar estudo digno para meus filhos", diz ela.
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Elaine escreveu os bilhetes nos últimos dias de 2016 com a esperança que no novo ano tivesse sucesso na vida profissional e conseguisse mais dinheiro para cuidar da família. A foto do bilhete foi divulgada em uma página do Facebook e teve mais de mil curtidas e cerca de 300 compartilhamentos.
"Na virada do ano eu fechei os olhos e pedi para Deus me guiar, me mostrar como fazer para conseguir mais diárias. Nos primeiros dias do ano algumas pessoas me procuraram falando do bilhetinho. Me renasceu aquela esperança. Não sabia que tinham colocado a foto do recado na internet, pois não sei mexer com redes sociais. Fico feliz em saber que tem gente que nem me conhece e quer me ajudar", contou emocionada.
A professora Vilma Sousa visualizou a publicação e ficou emocionada com a história de Elaine. Procurando uma auxiliar de limpeza competente e de confiança, Vilma fez contato com a diarista.
"Me emocionei com a simplicidade dela. Sabemos que o país passa por delicada situação econômica, mas não da para virar a cara para um pedido de ajuda como este. Cheguei a conversar com ela e agora estamos organizando uma data para que eu possa conhecer o trabalho dela", disse.
Com os bilhetes, Elaine ainda não conseguiu melhorar a renda de cerca de R$ 1.200 mensais, no entanto, ela mantém a esperança que outras oportunidades irão aparecer. Trabalhando como uma diarista desde 2006 ela afirma que os últimos meses foram muito ruins para conseguir ocupação em Uberlândia.
"Meu marido morreu tem dez anos e aí eu fiquei sozinha com as três crianças. Como estudei só até o quinto ano do ensino fundamental o emprego mais fácil que arrumei foi de ajudante doméstica. Minha vida desde então é cuidar dos meus filhos, pois só quem é mãe sabe o que é amor materno. Tudo que faço é por eles e tenho fé que as coisas vão melhorar para conseguir coloca-los em uma faculdade", confessou Elaine.
A esteticista de Uberlândia, Camila Teles, contrata os serviços da diarista por cinco anos. Ela conta que alguns anos atrás conseguia pagar mais diárias, mas que mesmo em épocas de recessão sempre mantém Elaine por perto, pois admira a força de vontade dela.
"Ela é uma das pessoas mais confiáveis que já conheci. Sabe aquela confiança de sair e deixar alguém na sua casa cuidando de tudo, sabendo que quando eu retornar não vai ter nenhum problema-! É esse meu sentimento por ela. Conheço não só o trabalho, mas também a pessoa humilde que ela é e só desejo que ela consiga realizar os sonhos que almeja. Se eu pudesse traria ela todos os dias pra minha casa", contou.
O início de 2017 não parece simples para quem está fora do mercado de trabalho. Os postos de emprego diminuíram no país e em Uberlândia não foi diferente.
Conforme último balanço divulgado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro a novembro de 2016 na cidade do Triângulo Mineiro, 90.722 pessoas foram demitidas, enquanto 89.799 foram admitidas.
Em 2015, o Sistema Nacional de Empregos (Sine) da cidade ofereceu 12.560 vagas já em 2016 foram 8.189.
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